“The Shrew’s Nest” foca a estória de Montse (Macarena Gómez) e a irmã acabada de completar 18 anos (Nadia de Santiago). Com a morte prematura da mãe e o abandono do pai (Luís Tosar), Montse chama a si o papel de progenitora que assume com todo o zelo e autoridade. Acossada pelo temor do desconhecido Montse é uma reclusa na sua própria casa, fazendo trabalhos de modista e tendo por ligação mais imediata ao exterior a irmã que trabalha na loja de ambas. Na casa que governa com mão de ferro, Montse recebe ainda a Dona Puri (Gracia Olayo) cliente e boa vizinha de confiança há muitos anos conquistada, pois que qualquer pessoa que introduza no seu lar é uma pessoa a mais. Viciada em morfina, nos seus receios e fervor religioso que constituem a maior fonte de emoções numa vida sem acontecimentos, Montse não tem qualquer desejo de alterar a sua situação. Enquanto o exterior não lhe entrar pela casa adentro e conseguir manter a irmã com rédea curta estará no pleno da sua existência limitada.
No entanto, a irmã que até ali manifestara meros laivos de rebeldia inicia a demonstrar um preocupante desejo de independência e a questionar a autoridade de Montse. Entretanto, o vizinho do andar de cima Carlos (Hugo Silva) cai das escadas do prédio quedando-se perto da sua porta. Pela primeira vez em muitos anos Montse é confrontada com uma situação em que se sente forçada a sair da sua zona de conforto e toma a decisão de esconder Carlos que partiu uma perna no acidente, qual Annie Wilkes (“Misery” 1990). Receber um estranho na sua casa, ademais o sedutor Carlos revela-se avassalador para Montse. Um mundo de oportunidades se abre para ela. De súbito, tentar sair de casa parece menos assustador e a ideia da irmã a trocar por outra realidade não se assume como o pior que poderia suceder. A destruição destas ilusões românticas prematuras irá lançar Montse numa espiral de insanidade com contornos trágicos.
Montse é uma metáfora da sociedade do ditador Franco. Desde o temor profundo que lhe é incutido através da figura do pai déspota e da religião obsessiva como guia orientador e resposta para quaisquer eventos que fujam aos padrões do que se entende por uma boa conduta, até à “claridade” de que um homem constitui a solução para todos os problemas.
Macarena Gómez é uma estrela como Montse. É esta personagem que confere uma força vital ao argumento. Ela é a Espanha franquista dominada pelo medo. Ela tem medo, incute medo e sobrevive através do medo. Ela teme o desconhecido e exerce o temor no castigo da irmã, no fundo, a única pessoa na qual pode descarregar toda a sua frustração e, em simultâneo, aquela que lhe permite manter alguma sanidade na sua cela voluntária. Quando surge um desafio ao seu poder, ela faz o que qualquer animal perseguido faz: ela luta com todas as suas forças para sobreviver. Só que o que ela entende como provocação, não é mais do que as vivências que qualquer indivíduo tem de ultrapassar para se melhorar enquanto ser humano.
A acção de “The Shrew’s Nest” ocorre quase na íntegra no apartamento das irmãs mas não está confinado ao espaço. Antes ajuda a criar um sentimento de empatia para com Montse e a sua agorafobia e, por outro, criar uma afinidade com a irmã de Montse que anseia ir além das paredes que a sufocam. O argumento foi escrito com uma sensibilidade que permite observar as personagens nas suas áreas cinzentas. Ninguém é por completo um monstro ou uma vítima. O sentimento de desconforto, a loucura que grassa nas paredes aguardando por um rastilho para explodir é palpável. A escalada e a recompensa demoram mas são rápidas e furiosas. Não é mesmo este o tipo de emoções que se esperam de um festival de terror?